VIOLA NÃO CHORA
“Chora
Viola, Viola chora”
Frase
corriqueira que eu ouço dizer
Mais
eu discordo dela, pois à minha maneira
Viola
não chora, por triste não ser
Ao
nascer da manhã lá no sertão
A
melodia dos pássaros ouço cantar
Exatamente
no mesmo horário lá vai Seu Tião
Pega
a Viola, senta na rede e começa a tocar.
O
retinir das cordas enaltece o dia
Plantas,
animais e gentes, podem ouvir.
Surge
a Viola, à moda, coisas daqui.
Seu
Tião, homem simples, se quer sabe ler
Da
terra tira o sustento, o manto e o canto
Mais
quando abraça a “menina”, como costuma dizer
Não
tem como daquelas cordas, soar algum pranto.
O
moço do rádio, gritou a pleno pulmão
"Chora
Viola", ao anunciar a canção
Ouve-se
o estribilho, tacado com a mão
Desfigurou-se
o semblante e apertou o coração
Ao
tocar a Viola, surge radiante paz
Alegria
abundante e cintilante se faz
Como
pode pedir pra chorar algo que nos traz prazer
Dessas
coisas o moço jamais irá saber
Tapera
velha é ali que ele mora
Nunca
chorou, pois dizem que homem não chora
Amigos
vem, mais também vão embora
Dias
tristes? Já houve outrora
Ao
pegar a “menina” e abraçar com carinho
A
tristeza se manda pra não mais voltar
Surge
a alegria doce como o vinho
Como
pode então pedir pra Viola chorar?
Instrumento
divino, se é que posso assim denotar
Executo
com carinho, na “menina”, a canção
Fazendo
meus versos sem rima achar
Realidade
agradável e simples do meu sertão
A
natureza anuncia que a noite já vem
O
homem pega a “menina” e tira dela um último refrão
A
mão calejada, a voz embargada já forças não tem
Foi-se
os dias do sertanejo Tião
Os
pássaros cantam, sem “menina” para acompanhar
A
rede amarelada à espera de alguém embalar
A
fogueira apagou, a lenha parou de queimar
A
tapera de palha, velha, vazia está
Até
mesmo o moço do rádio parou de gritar
Nem
mesmo assim, consegue a Viola chorar
JJ Oliveira
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