sábado, 25 de julho de 2015

VIOLA NÃO CHORA


VIOLA NÃO CHORA

“Chora Viola, Viola chora”
Frase corriqueira que eu ouço dizer
Mais eu discordo dela, pois à minha maneira
Viola não chora, por triste não ser

Ao nascer da manhã lá no sertão
A melodia dos pássaros ouço cantar
Exatamente no mesmo horário lá vai Seu Tião
Pega a Viola, senta na rede e começa a tocar.

O retinir das cordas enaltece o dia
Plantas, animais e gentes, podem ouvir.

Rústica, garbosa, e com muita alegria.
Surge a Viola, à moda, coisas daqui.

Seu Tião, homem simples, se quer sabe ler
Da terra tira o sustento, o manto e o canto
Mais quando abraça a “menina”, como costuma dizer
Não tem como daquelas cordas, soar algum pranto.

O moço do rádio, gritou a pleno pulmão
"Chora Viola", ao anunciar a canção
Ouve-se o estribilho, tacado com a mão
Desfigurou-se o semblante e apertou o coração

Ao tocar a Viola, surge radiante paz
Alegria abundante e cintilante se faz
Como pode pedir pra chorar algo que nos traz prazer
Dessas coisas o moço jamais irá saber

Tapera velha é ali que ele mora
Nunca chorou, pois dizem que homem não chora
Amigos vem, mais também vão embora
Dias tristes? Já houve outrora

Ao pegar a “menina” e abraçar com carinho
A tristeza se manda pra não mais voltar
Surge a alegria doce como o vinho
Como pode então pedir pra Viola chorar?

Instrumento divino, se é que posso assim denotar
Executo com carinho, na “menina”, a canção
Fazendo meus versos sem rima achar
Realidade agradável e simples do meu sertão

A natureza anuncia que a noite já vem
O homem pega a “menina” e tira dela um último refrão
A mão calejada, a voz embargada já forças não tem
Foi-se os dias do sertanejo Tião

Os pássaros cantam, sem “menina” para acompanhar
A rede amarelada à espera de alguém embalar
A fogueira apagou, a lenha parou de queimar
A tapera de palha, velha, vazia está
Até mesmo o moço do rádio parou de gritar
Nem mesmo assim, consegue a Viola chorar



JJ Oliveira

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